sábado, 7 de março de 2015

O jardim

Observo o jardim que um dia eu cuidei, e por motivos maiores o abandonei. Hoje vejo que ele continua belo, quero dizer, mais belo do que antes. Sinto meus olhos quererem marejar, mas já chorei demais, quero guardar um pouco de lágrimas para algo mais especial. Mas porque reviver lembranças também não seria especial? Tenho feito pensamentos contraditórios em minha mente, que tudo que eu falo acho que não está certo, dou outra versão, faço uma confusão… me perco…
Queria tanto ir até o jardim, mas mal conseguia andar. Comecei a rir, aquilo pra mim era demais! Eu queria, e eu ia! Mas no fundo não tinha forças nem pra respirar. Comecei a ficar com ódio, queria sumir. Fechei os olhos firme, suspirei tranquila e longamente.
Olhei o céu, sabia que ia vir chuva, e pela primeira vez em anos eu rezei…
Rezei, perguntei pra Deus, porque tinha que acontecer tudo aquilo comigo, qual foi meu pecado, onde eu tinha errado.
Pedi perdão por cada ofensa que pronunciei sobre pessoas, por cada ato que desagradou a quem esteve do meu lado, pedi perdão por cada erro na minha vida. Cai em lágrimas…
Aquele era o momento especial pra chorar? Chorar durante uma conversa com Deus?
Senti uma mão sobre meu ombro, eu quis olhar, mas não consegui levantar a cabeça. E deixei que aquela sensação tomasse conta do meu corpo, e fui deixando as lágrimas saírem, uma a uma.
Adormeci por horas…
No meu sonho eu corria pelo jardim, e comecei a ver uma criança correndo também, a criança acenava para mim, sorria, e me chamava. Quando cheguei perto, vi que a criança era eu, mas aquilo não era possível, devia estar ficando louca! E eu falava para mim mesma: - não chore, Deus já nós perdoou, olha aqui! Olha só! - eu rodava de um lado pro outro acompanhando a criança que era eu. Caminhávamos sobre o jardim, o sol estava alto, brilhava muito, eu passava as mãos sobre as rosas, e comecei a sentir o cheiro de bolo.
A criança me falou:- vovó fez bolo de novo! Só que você não pode comer, só eu que sou pequenina, vá pra casa agora! Você não pode comer esse bolo! Só eu e a vovó!
Acordei assustada. Mas estava no mesmo lugar ainda, sentada de frente com a janela olhando o jardim. Só que não existia mais jardim ali. Fiquei ainda mais confusa. Chamei minha mãe, mas ela não vinha. Do nada levantei, e corri atras dela pela casa. Foi quando a vi sentada no sofá, com o telefone na mão, chorando, e meu pai do lado, dando conforto.
-Ela encontrou o caminho, está na verdadeira casa dela! Ela está em paz! Acalma teu coração! -dizia meu pai chorando também.
Mas quem ia ficar bem? De quem eles falavam?
Eu chamava eles, mas não eles respondiam. Foi quando senti de novo, a mesma mão no meu ombro.
-Não fique assim, o jardim se foi, assim como você. Vamos embora. E um dia você ira encontrar com eles. Só que não é hoje.
Foi quando percebi que não fazia mais parte do plano carnal, e sim do espiritual. Não conseguia aceitar aquilo, mas era da vontade Dele, não tinha porque questionar.
Tempos depois voltei, só para uma visita, e vi o jardim novamente, havia recomeçado, e estava ficando belo. Nele corria uma criança que eu não sabia quem era, mas ela me viu e acenou. Retribui. De longe ouvia a mãe chamar por ela, me emocionei. Senti uma presença ao meu lado, me virei para olhar. Era minha mãe, que na sua extrema calma me olhou, deu um beijo em minha testa e falou bem baixinho: - Achei que você não ia voltar aqui, eu e seu pai te esperamos. Nos mostre onde é a sua casa para voltarmos a morar juntos. Sei que sua avó está lá. Acho que um bolo está lá, quentinho, só esperando a gente chegar. Vamos  filha?

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