quinta-feira, 12 de março de 2015

Meu vício


Não há o que falar, tem que sentir. O cheiro está em mim, a euforia e a expectativa de poder novamente ter aquelas sensações me fazer refém.
Aquele olhar me afogava, o jeito que boca falava e sorria, o modo que se expressava, o som daquela voz me transportava ao mundo que  não podia ser real. Eu ficava dependente de cada momento ao lado dele.
Nunca me fiz notar, pois é assim que viciados fazem isso, querem ser o mais invisível possível, e eu queria ser assim para ele, pois não queria que se afastasse de mim, não deixa ninguém perceber aquele vicio, pois não queria dividir minhas sensações.
Alucinada, louca, insana, passava horas a fio imaginado como seria ter ele perto, como seria sentir seu perfume lado a lado, o seu abraço, sua força.
Nada naquele mundo se comparava à ele. Pra mim só existia ele, e ele é a minha droga preferida!
Tempos passaram, e meu vício só aumentava.
Durante uma forte chuva, ele me viu e correu para me tirar dela, pois estava andando sem sentido pelas ruas, eu procurava um pouco de paz para minha mente, para tentar me livrar daquele vício. O que não aconteceu.
Ele me puxou para junto de si dentro do guarda chuva, me abraçou um pouco forte, e foi quando eu senti aquele cheiro, sua voz ao meu ouvido e suas mãos em minha cintura. Aqueles olhos tão fundos quanto o oceano brilhavam, sua boca se movia em palavras que eu não entendia. Poderia ter uma overdose naquele momento.
Tentei fugir daquele momento, fingir que estava normal.
Fomos conversando até a casa dele, falamos sobre a vida, mundo e universo.
Ele me emprestou uma camiseta que ficou como um vestido para mim, ele sorriu e me chamou de pequenina, eu retribui o sorriso, mas tímido. Fui para minha casa, e não conseguia para de pensar naquele momento. Tive a certeza que ele tinha percebido algo, mas continuaria neutra, não ia demonstrar nada.
Tentava fugir dele, não saia com o pessoal, estava começando minha abstinência.
Longos dias se passaram, e minhas crises aumentando, sabia que poderia ficar louca a qualquer momento, pensei em sair para tentar encontrar ele em qualquer lugar. Como viciados que saem atrás de seu vício pelas esquinas, eu sai a procura dele. Fui infeliz em diversas tentativas.
O outono chegou, e com ele as folhas amarelas a cair das árvores, assim como de meu rosto caíram lágrimas. Não tinha mais notícias dele, não sabia onde encontrar, eu estava ficando cada vez mais abstinente, pois toda vez que fechava os olhos, recriava sua imagem, sentia seus braços e seu perfume.
Sentada sobre uma árvore perdida em meu pensar, senti uma mão sobre meu ombro, eu reconheci aquela mão apenas sentindo o toque, era ele...
Ficamos sentados, um do lado do outro, sem nos falar, apenas escutando a nossa respiração, sentindo a brisa fria avisando que o inverno estava próximo.
Durante dias nos encontramos assim, poucas palavras, mas um turbilhão de sentimentos.
O beijo foi inevitável, junto com o beijo veio o toque, o carinho, o êxtase total.
Pude sentir o coração dele batendo contra meu peito, um corpo só, não queria mais nada naquele momento. Minto! Eu queria sim, que o tempo pudesse parar, que aquele momento não acabasse...
Com o chegar da primavera, corríamos juntos como se fossemos duas crianças felizes por ganhar presentes fora de época.
Ele é meu presente.
Ele é minha droga.
E nada vai fazer eu parar com esse vício de querer cada dia mais e mais o sorriso, o beijo, o toque dele.





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